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Hackeando a cultura

A sede de liberdade hacker não se limitou somente aos programas e sistemas operacionais. Com tal, os hacker sempre procuraram a liberdade e por sua vez, também a criação de novos conceitos operacionais para que usassem das mídias existentes. Durante muitos anos alguns formatos de compressão de dados e por sua vez, inclusive de música, foram usados no meio informática para propagar dados. Estes formatos, em geral proprietários, e extremamente grandes para troca na internet causavam extremo problema, já que executar o download de programas grandes é um problema com conexão discada, uma das formas ainda mais usadas de conexão em todo o mundo.

Justin Fankel, um estudante da Universidade de Utah, a Terra dos Mormons, criou o WinAmp, que era um tocador de arquivos, ou melhor, executava um formato de arquivos muito obscuro na época, o MP3. Em vez dos famosos chiados e falhas dos antigos formatos de compressão de arquivos de som, o MP3 prometia qualidade próxima a dos Cd s em um arquivo muito menor que os outros formatos.

Na realidade, Frankel popularizou o formato com seu programs, mas ele simplesmente usou um formato de compressão de arquivos disponível desde 1992, de nome MPEG-1 Layer 3, que é um padrão internacional que permite comprimir arquivos a até 1/11 do tamanho que teriam com a extensão WAV, sem perda significativa de qualidade.

A idéia de Frankel, em 1997, teve grande repercussão devido a melhoria dos modens ( já de 56Kbps ), e o crescimento vertiginoso da velocidade dos processadores. Isto propiciou um grande crescimento do mercado para ete tipo de formato. Somado com a internet, este formato se tornou um padrão de distribuição de música na internet.

O grande problema que atualmente se discute em volta da MP3 é o seu formato libertário. Qualquer pessoa no mundo pode ter um encoder ( decodificador) do formato em seu computador e colocar na internet para livre distribuição. De acordo com alguns estudos recentes, somente artistas de baixa qualidade tem seus trabalhos atrapalhados pela MP3. O antigo hábito de ir a uma loja de discos ficar ouvindo seus cds preferidos no fone para escolher o melhor, foi agora repassado para o MP3, onde você pode escolher o artista que quer ouvir e por sua vez, escolher o cd em casa, e comprá-lo via internet ou loja real.

A MP3 é um formato que abriu portas de divulgação para os mais diversos tipos de pessoas e por sua vez, ainda abriu portas para outro tipo de coisas.

O Napster é talvez um dos capítulos mais pesados da nossa atual história da informática. Na realidade, o Napster levou ao extremo o conceito de liberdade, causando por sua vez uma revolução no mercado mundial da música, e agora, também em outros formatos de mídia tradicional. O mundo sofre uma Napsterização da cultura, sendo este programinha, criado por Shaw Fanning.

O Napster é um tipo de programa que torna muito mais fácil a tarefa de encontrar os arquivos do formato mp3 na rede, através de uma busca em servidores de arquivos, onde você encontrará as músicas que procura.

O Napster funciona mais ou menos com o ICQ, mas tem um protocolo diferente. O ICQ, programa de comunicação, funciona como um local onde você pode encontrar todas as pessoas que você conhece, tendo-as cadastradas em seu programa. Bem, ele tem um servidor central, que recebe uma conexão da pessoa quando a mesma entra na rede e abre o programa. Por conseguinte, todas as pessoas que tem este indivíduo cadastrado em sua listagem do ICQ, irá notá-lo on line quase que instantaneamente.

O Napster segue o conceito de peeer-to-peer, ou seja, há um servidor central, onde há uma conexão, para se saber quantas pessoas estão conectadas, mas asssim que o arquivo é encontrado, ele passa a ser transferido de computador para computador.

Um diagrama disto pode ser encontrado no apendice B - figura 2, onde pode-se entender o conceito de funcionamento do Napster.

Vejamos realmente como é o conceito do Napster. Ele funciona como um programa de compartilhamento de arquivos, formando uma grande rede de usuários do programa na internet, que também é outra rede. Bem, quando você instala o programa em seu computador, ele pergunta quais diretórios com arquivos de música, MP3, que você quer compartilhar. Por sua vez, quando você conectar o programa Napster, o seu computador, através do programa instalado em seu computador, mandará o índice dos arquivos que você pretende compartilhar. Sendo assim, quando alguém procurar o nome da música que você possui em seu computador, esta pessoa, será transferida para o seu computador e fará o download da música diretamente da sua máquina. Na realidade, o servidor Napster somente faz a indexação dos arquivos, mas não os possui em si.

O grande mérito do Napster não é somente trazer ao mundo um novo conceito de liberdade, mas também, o fenômeno que o mesmo criou. O programa começou a ser copiado, mas cada um dos programas que possuiam as mesmas características que ele, levavam o conceito mais além.

O Gnutella, um programa do mesmo tipo que o Napster, além de permitir a troca dos mais diversos tipos de arquivos, mas leva o conceito de peer-to-perer além. No Gnutella não há um servidor central, todos os computadores são clientes e servidores, causando uma terminação do servidor central. Sendo assim, o Gnutella é um conceito mais libertário ainda que o Napster, pai destes outros milhares de conceitos existentes por aí.

Há outros programas como o Scour Exchange e o Wrapster que também não restringem o tipo de arquivos trocados, mas ainda assim, usam um servidor central. Como pode ser visto, o Napster segue um padrão aberto. Ou seja, o tipo de comunicação foi posto a disposição de uma comunidade de programadores no mundo inteiro, e os mesmos criaram conceituações diferentes de um mesmo tipo de comunicação. Segue, como não poderia deixar de ser os preceitos da antiga e ainda atual, conceituação hacker.

Mas, o hackering da indústria da cultura não ficou somente no Napster.Quando começou a produção de filmes de DVD, as preocupações com a pirataria levaram os estúdios de gravação e fabricantes de players ao desenvolvimento de um código para evitar a replicação de filmes : o Contat Scrambling System (CSS), que embutido nos leitores de DVD, pode reconhecer a procedência do disco. Se o DVD não for original, sua reprodução é negada.

Porém, alguns usuários do sistema Linux, limitados pela falta de suporte dos DVD players a sua plataforma, conseguiram elaborar um software para neutralizar a ação do CSS. Mais uma vez os hackers destruíam as pretensões da indústria.

Jon Johansen, um norueguês de 16 anos, responsável pela implementação do DeCSS dava ao mundo a oportunidade de fazer que os estúdios de filmagens temiam - copiar filmes a partir do DVD.

O código fonte deste decodificador foi distribuido amplamente na internet, inclusive com alguns sites sofrendo sanções da justiça. Mas, uma vez na internet, o código nunca mais poderia ser parado, não há lei , e muito menos, meios de procurar em toda a rede este arquivo que está hoje, em milhares de computadores.

Mas, quando as empresas ainda tentavam digerir o DeCSS, eis que surge mais um golpe. Este novo golpe foi desferido por dois hackers que atendem pela alcunha de MaxMorice e Grej. Os dois criaram um algoritmo de compressão de vídeo batizado de DivX ( nenhuma referência ao finado formato alternativo do DVD), uma tecnologia que combina a compressão usada nos MPEG-4 ( MP4), patenteada pela Microsoft e o layer de compressão de áudio MP3.

O resultado é impressionante : gravações em DVD gigantescas ficam com 15 Em alguns testes realizados, como citado na Revista Geek, número 8, com o trailer do filme Os Bons Companheiros, do diretor Martin Scorcese, nota-se que restam alguns poucos bugs[16] de sincronização a corrigir, algo que já está sendo implementado pelos hackers, ao mesmo tempo batalhando na tentativa de substituir a tecnologia da Microsoft empregada no codec para evitar problemas jurídicos. O novo codec[18] tem o nome de 3ivX.

Se o DivX por um lado pode ser considerado a certidão de óbito do DVD, por outro pode estar gerando o mesmo efeito do MP3, ou seja, uma troca intensa de filmes pela internet, através de diversos programas do tipo Napster.

Rich Taylor, porta-voz da MPAA ( Associação das Empresas Cinematográficas da América) afirmou que a explosão do DivX deve demorar ainda um pouco, pois os arquivos ainda tem tamanhos muito excessivos como 700MB ou 800MB. Diz, que até a tecnologia ser desenvolvida em sua totalidade o movimento vai ser abafado.

Mas, a tecnologia sempre surpreende os figurões das grandes empresas. Hoje, com uma procura na web, podem ser encontrados desde traylers de filmes, até filmes completos para serem baixado no formato. E como já era disto, mesmo que a tecnologia seja barrada, pela sua natureza Open Source, vai continuar sendo desenvolvida por outros milhões de hackers no mundo.

Mas, alguns autores começaram a entender esta característica da web como algo vantajoso, como aconteceu com Stephen King em seu último romance The Plant. Bem, a indústria editorial está descobrindo agora o que muitos sites já haviam descoberto. Disponibilizar obras em formato eletrônico é muito rentável e divulga obras dos mais diversos tipos. Este tipo de formato também já era conhecido do meio hacker a muito tempo, o chamado formato de documentação on line, onde são disponibilizados desde livros até poemas, em html, postscript ou outros formatos em sites dedicados a estes assuntos.

Os e-books são mais baratos além de seu tamanho propiciar uma troca dos arquivos na internet. Este setor ainda não foi alvejado por problemas com os hackers, mas com o advento da virtualização dos livros este tipo de mídia pode vir a ser alvejado com algum problema com os hackers.

Mas, mesmo assim, é importante analisar o novo conceito da mídia sendo transformada. Stephen King publicou um romance e o disponibilizou na web em forma de e-book, em um site e em parceria com uma editora. Um leitor constrangido por haver lido o romance sem pagar pelo mesmo mandou para o autor um cheque de dois dolares e cinquenta centavos . Após este acontecimento King notou que poderia ganhar dinheiro sem a intervenção de uma editora. O novo romance dele, como já citado The Plant, vai ser disponibilizado para os leitores pelo preço de um dólar por capítulo. Com isto, ele começa a romper com um formato centenário de mídia, torando a produção literária, como também tornou-se a musical, totalmente voltada para o autor e seu trabalho. O autor vende seu trabalho sem a intromissão de terceiros.


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Ataliba Teixeira 2001-01-15