
TI é uma área complicada. Enquanto o Marketing das faculdades cria um caos no entendimento do que é este segmento de mercaod que abarca diversas profissões. É um segmento que é suprido por diversos cursos, que vão desde os cursos de humanas até os cursos de exatas.
É um grande erro eu acredito é simplificar um mercado enorme como TI em cursos de computação e engenharias.
Tecnologia da informação é um segmento de mercado que, por sua vez, é suprido por diversos cursos. Portanto é ser muito Floquinho de neve ( falei isto porque muita argumentação chegou neste nível de imaturidade ) e centralizar o trabalhar com TI em ser programador, suporte ou profissional de redes, etc. TI é muito mais que as áreas de exatas.
A Origem da Ordem: Por que Categorizamos o Conhecimento?
E ter isto em mente não é apenas um insight de negócios; é resgatar um princípio fundamental que remonta aos primórdios da filosofia ocidental. A confusão atual sobre o que é “TI” ecoa um desafio que Aristóteles já enfrentava: como organizar o conhecimento humano de forma que ele possa ser aprofundado e dominado?
No início, a Filosofia era a “mãe de todas as ciências”. Um único pensador poderia, em tese, debater sobre ética, política, física e biologia na mesma tarde. No entanto, à medida que o volume de conhecimento crescia, a especialização tornou-se uma necessidade inevitável para o avanço. Não era mais possível ser um especialista em tudo.
A divisão do conhecimento em áreas — Lógica, Física, Metafísica, etc. — não foi um capricho acadêmico. Foi um framework de otimização. Um reconhecimento pragmático de que diferentes objetos de estudo exigem diferentes métodos de investigação e diferentes linguagens. A Física exige experimentação empírica. A Lógica exige rigor formal.
Tentar dissolver a Computação, com seu pilar lógico-matemático, de volta ao caldo genérico e mercadológico de “TI” é um retrocesso intelectual. É ignorar séculos de desenvolvimento que nos ensinaram que a profundidade exige foco. É o equivalente a dizer que, como a Cardiologia e a Dermatologia lidam com o corpo humano, não deveria haver distinção entre elas.
Portanto, quando defendemos que a Computação tem um núcleo em Exatas, não estamos sendo elitistas. Estamos sendo precisos. Estamos aplicando o princípio da especialização rigorosa que permitiu à humanidade sair da especulação para a construção de sistemas complexos e funcionais.
A Matemática: A Física Estrutural da Computação
O argumento mais comum contra a necessidade da matemática é: “Eu sou programador há 10 anos e nunca usei uma equação diferencial para construir uma API”. Este argumento, embora factualmente correto, revela uma incompreensão fundamental sobre o papel do conhecimento.
Um engenheiro civil não calcula a resistência de uma viga mestra enquanto assenta um tijolo. No entanto, seu profundo conhecimento de física estrutural informa cada decisão que ele toma, desde a fundação até o acabamento, para garantir que o prédio não desabe. Ele não “usa” a física a todo momento, mas ele pensa através dela.
Para o profissional de Computação, a matemática tem exatamente o mesmo papel. Ela é a nossa física estrutural. Ela nos fornece o framework para construir soluções que não são apenas funcionais na superfície, mas também eficientes, escaláveis e seguras em sua essência.
Este é o arsenal que a matemática nos entrega:
- Lógica Formal e Álgebra Booleana: Não se trata de true ou false em um if. Trata-se da base de cada regra de firewall, cada política de acesso no IAM, cada consulta em um banco de dados e cada transação financeira. É o alicerce da lógica de controle e da segurança. -Análise de Complexidade (Big O Notation): Isso não é um truque para passar em entrevistas. É a ferramenta que diferencia o amador do engenheiro. É o que nos permite prever se um novo feature deploy vai derrubar o cluster em produção quando o tráfego aumentar 10x. É a ciência da escalabilidade e da performance. Negligenciar isso é o mesmo que construir um motor sem entender de termodinâmica.
- Teoria dos Grafos e Estruturas de Dados: Quer entender redes, roteamento BGP, dependências de pacotes (apt, npm), ou como seus microsserviços se interconectam para formar um sistema resiliente? Isso é Teoria dos Grafos aplicada. Sem ela, você está apenas olhando para caixas e setas, incapaz de analisar gargalos, pontos de falha ou vetores de ataque.
- Criptografia: Aqui a conexão é explícita. O “Sec” de DevSecOps reside aqui. É 100% matemática pura (teoria dos números, corpos finitos) garantindo a confidencialidade, integridade e autenticidade dos dados. Não há segurança digital sem matemática.
Portanto, a conclusão é inevitável. Tentar dissociar a Computação de sua base matemática é o equivalente a pedir que um engenheiro construa uma ponte com base em “intuição” em vez de física. A ponte pode até parecer funcional em um dia de sol, mas nenhum de nós teria a coragem de atravessá-la durante uma tempestade.