Os Koans do Unix de Mestre Foo

Texto interessante de Eric Raymond, traduzido por J. Victor Martins, e está disponível no site do mesmo, na url http://jvdm.freeshell.org/pt/unix-koans/.

O original do texto está, lógico, no site do Eric Raymond. O link direto para o texto é http://catb.org/~esr/writings/unix-koans/.

O texto parece já ter sido atualizado, e vou ver se consigo colocar as atualizações aqui no site 🙂

Mestre Foo e o Script Kiddie

Um estranho da terra de Woot apareceu para o Mestre Foo enquanto ele fazia o seu dejejum com seus alunos.

“3u 50ub3 qu3 você é mui70 f0d4”, ele disse. “P0r F4v0r, 3nsin3-m3 7ud0 o qu3 você sab3.”

Os alunos do Mestre Foo se entreolharam confusos por causa da linguagem bárbara do estranho. Mestre Foo simplesmente sorriu e retrucou: “Você deseja aprender o Caminho do Unix?”

“3u quer0 53r um gr4nd3 h4ck3r”, o estranho respondeu, “3 inv4dir 0s c0mput4d0r3s de t0d0s.”

“Eu não ensino este Caminho”, retrucou novamente o Mestre Foo.

O estranho então levantou-se agitado. “C4r4, você não é n4d4 m4is que um p0ser”, ele disse. “S3 você s0ub3ss3 4lgum4 c0is4, você m3 3nsin4ri4.”

“Existe um caminho”, disse o Mestre, “que pode lhe trazer sabedoria.” Ele então escreveu um endereço IP em um pedaço de papel. “Craquear este computador não lhe trará dificuldades, pois seus guardiões são incompetentes. Retorne e diga-me o que você achou.”

O estranho virou as costas e partiu. Mestre Foo terminou sua refeição.

Dias se passaram, e então meses. O estranho foi esquecido.

Anos depois o estranho da terra de Woot retornou.

“Maltido seja!” ele disse, “Eu invadi aquele computador, e foi fácil justamente como você disse. Mas eu fui pego pela polícia federal e eles me jogaram na prisão.”

“Bom!” disse o Mestre Foo. “Você esta pronto para a próxima lição.” Ele escreveu outro endereço IP em outro pedaço de papel e o entregou ao estranho.

“Você está louco?” o estranha gritou. “Depois do que eu passei eu jamais vou invadir um computador novamente!”

Mestre Foo sorriu. “Aqui”, ele disse, “ccomeça o início da sabedoria.”

Ao ouvir isto o estranho foi iluminado.

 

Mestre Foo discorre sobre a natureza Unix

Um estudante disse ao Mestre Foo: “No foi dito que um firma, chamada SCO, é aquela que possui o verdadeiro domínio sobre o Unix.”

Mestre Foo confirmando, curvou-se.

O estudante continuou, “Ainda, nos disseram que uma firma chamada OpenGroup é também quem possui o verdadeiro domínio sobre o Unix.”

Mestre Foo confirmando, curvou-se.

“Como pode ser assim?” perguntou o estudante.

O Mestre então disse:

“Em verdade a SCO possui o domínio sobre o código do Unix. Mas o código do Unix não é Unix. Também, em verdade, a OpenGroup possui o domínio sobre o nome do Unix. Mas o nome do Unix não é Unix.”

“Qual então é a natureza Unix?” perguntou o estudante.

O Mestre disse:

“Sem código. Sem nome. Sem mente. Sem coisas. Sempre mudando, porém nunca mudando.”

“A natureza Unix é simples e vazia. Por ser simples e vazia é mais poderosa do que um maremoto.”

“Movendo-se de acordo com a lei da natureza ela permite desabrochar inexorabilidade nas mentes dos programadores, assimilando desanines para a sí mesma. Todo software que compete com ela deve se tornar como ela; vazia, vazia, profundamente vazia, perfeitamente sem forma. Santa!”

Ao ouvir isto o estudante foi iluminado.

 

Mestre Foo discorre sobre a Interface Gráfica do Usuário

Certa noite Mestre Foo e Nubi participavam de um encontro de programadores que decidiram se reunir para aprender um dos outros. Um dos programadores perguntou a Nubi a que escola ele e seu mestre pertenciam. Logo após de ter ouvido que eles eram seguidores do Grandioso Caminho do Unix o programador retrucou sarcasticamente.

“As ferramentas de linha-de-comando do Unix são arcáicas e rudes”, ele desdenhou. “Sistema modernos, propriamente projetados fazem tudo através de uma interface gráfica do usuário.”

Mestre Foo não disse nada, mas apontou para a lua. Um cachorro próximo começou a latir para a mão do mestre.

“Não consigo entendê-lo!” disse o programador.

Mestre Foo continuou em silêncio, e apontou para a imagem de Buddha. E então ele apontou para uma janela.

“O que você está tentando me dizer?” perguntou o programador.

Mestre Foo apontou para a cabeça do programador, e logo depois ele apontou para uma pedra.

“Por que você não tenta ser mais claro?” exigiu o programador.

Mestre Foo franziu contemplativamente a testa e deu dois toques no nariz do programador, empurrando-o numa lixeira ao lado.

Enquanto o programador se debatia no lixo o cachorro andou a esmo e urinou sobre ele.

Nesse momento o programador alcançou iluminação.

 

Mestre Foo e o Usuário Final

Em uma outra ocasião quando o Mestre Foo dava instruções públicas um usuário final, ouvindo falar dos contos de sabedoria do Mestre, foi até ele pedir conselho.

Ele curvou-se três vezes para o Mestre Foo. “Eu desejo aprender o Grande Caminho do Unix”, disse ele, “mas a linha de comando me confunde.”

Alguns dos neófitos ao lado começaram a ridicularizar o usuário final, o chamando de “sem-noção” e dizendo que o Caminho do Unix é somente para aqueles que possuem disciplina e inteligência.

O Mestre levantou a mão por um momento silênciando-os, e chamou o mais agitado dos neófitos que ridicularizava até onde ele e o usuário final estavam sentados.

“Cite-me,” perguntou ao neófito, “os códigos que você já escreveu e os resultados com desaine que você já alcançou.”

O neófito começou a abrir a boca para uma resposta, mas caiu em silêncio.

Mestre Foo virou sua atenção ao usuário final. “Diga-me”, ele inquiriu, “por que você busca o Caminho?”

“Eu ando descontente com os softwares que eu encontro ao meu redor”, disse o usuário final. “Eles nem são capazes de trazer conveniência ou de satisfazer os olhos e mãos. Ao ouvir que o caminho do Unix apesar de difícil é superior eu pretendo me livrar de todas as armadilhas e ilusões.”

“O que você faz no mundo”, perguntou o Mestre Foo, “que o instiga a querer dedicar-se à softwares?”

“Eu sou um construtor”, o usuário final replicou, “Muitas das casas dessa cidade foram feitas sobre minha perícia.”

O Mestre Foo virou-se para o neófito. “O gato pode imitar o tigre”, disse o Mestre, “mas ao fazê-lo não irá tornar o seu miado em um rugido.”

Ao ouvir isto o neófito foi iluminado.