Computadores e Velocidade

Este texto foi escrito com o intuito de responder uma questão proposta em aula pelo Professor Mário, de Sistemas de Informação da Faculdade de Informática do Oeste de Minas, pois eu achei que a mesma não poderia ser respondida em poucas linhas. Portanto,a citarei nesta introdução para que possa ser entendido, pelo menos básico, do porque estarei falando sobre cada uma das citações que este texto conterá

A Questão : Com computadores melhores e mais rápidos, a maioria dos problemas que estamos vivenciando hoje desaparecerá. Você concorda ? Porque ?


Estamos inseridos em um novo processo. E, talvez por isto, esta pergunta, quando me foi apresentada, incitou a vontade de produzir um texto sobre o assunto. Assunto este, que, hoje, participa da vida de cada cidadão do mundo. E, cada cidadão do mundo participa direta ou indiretamente deste processo.

Esta nova realidade, ou seja, este novo processo, insere a figura humana em um cenário de tecnologia que ao mesmo tempo, assusta e maravilha. Para os profissionais da tecnologia, este processo de mudança tecnológica do mundo, é natural e esperado. Mas, para o cidadão comum, ainda assustado e preso a valores sociais já superados pela tecnologia, é assustador. Ainda, também, há o lado social, pois, ainda há também a falta de acesso a tecnologia da maioria dos cidadãos do mundo.

Boa parte dos cidadãos deste nosso mundo, nem ao menos tem acesso a uma linha telefonica. Quando pensamos que somente 40% da população mundial atualmente tem acesso a tecnologia, notamos que o caminho para a discussão do processo “tecnológico”, passa também pela discussão de todo o processo social que está inserido nela. A computação será o caminho para a resolução de problemas sociais proeminentes em nossa época, mas ao mesmo tempo, ela hoje, é a peça principal para um tipo de “capitalismo da informação”, que, em primeira análise, é muito mais voraz que o capitalismo puro.

Quando pensamos que com todas as facilidades que temos, podendo comprar e acessar informações no momento que bem entendermos; existe, aqui, em nosso país, crianças, pessoas que não tem acesso a uma educação de nível, ou, ao mesmo tempo, não tem acesso a alimentação. Estes problemas sociais, tão intrínsecos a nossa sociedade, passam desapercebidos a muitos dentro do processo computacional, pois parece, a nós técnicos ( boa parte de nós, de famílias bem estruturadas ), que tudo é ligado a simplesmente, velocidade da informação.

Enquanto discutimos se a velocidade da informação, ou computadores mais rápidos irão aparecer, um jovem é morto em algum lugar, vítima do narcotráfico. Outro, é vítima de alguma bala perdida, em um tiroteio enquanto voltava da escola. Outros, lutam por um espaço em um país que cada vez deixa menos espaço para que haja um crescimento pessoal. A disparidade social ainda é um dos maioers problemas de nossa época, em nosso Brasil varonil.

Como já dito acima, a Sociedade da Informação está criando uma nova realidade mundial. Uma realidade em que cada vez mais, os povos menos abastados entram em um processo de dependência tecnológico/social de outros países mais tecnologicamente evoluídos. Empresas “monstro” engolem pequenas empresas que tentam aparecer em um cenário cada vez mais difícil. Os computadores, antes arautos de uma nova era, mais bela e mais humana, tornam-se cada vez mais arautos de uma era de desigualdades muito maiores. Para nós, informatas, talvez esta realidade, de uma sociedade da informação injusta possa estar chegando ao fim.

Enquanto por um lado assistimos a desigualdade social cada vez mais pesada atingindo a informática, assistimos também um lado mais “humano” da história acontecendo. Uma filosofia nova, baseada na liberdade, principalmente, na liberdade de escolha. Este processo, culminado na criação da Free Software Foundation na década de setenta pelo hacker Richard Stallman, abriu caminho para um processo que hoje, cada vez mais, se torna irreversível.

Muitos, talvez a maioria que estiver lendo este texto, já ouviram falar do Linux. Muitos, também, já ouviram o ardor da imprensa em torno do processo que este sistema está causando ao mercado. A maioria, mesmo que nunca tenha visto o sistema funcionando, já tem uma opinião formada sobre o mesmo. Mas, é, na filosofia deste sistema que moram as resoluções para boa parte dos problemas que os computadores possam vir a resolver.

Pode parecer um pouco radical o que eu disse, mas, o processo computacional, está intimamente ligado ao software ( qual a utilidade de um computador sem programas ? :) ).

A filosofia do Linux é a antiga filosofia perpetrada pelos fundadores da atual informática. Eles tinham o conceito de comunidade. Este conceito durante anos foi esquecido pelas grandes companhias, e de repente, recuperado por uma comunidade de programadores que estão espalhados pelo mundo. O Linux, e outros softwares, foram desenvolvidos por uma comunidade de pessoas preocupadas com a liberdade da informação e principalmente, com a disparidade social que a mesma pode causar.

Não estamos falando somente de um monte de hackers loucos por códigos fonte, mas de toda uma comunidade, estudantes das mais diversas áreas, que descobriram na filosofia do software livre, um alento para o atual quadro de dissolução social em que vivemos. Ainda é utópico dizer que o software livre dominará o mercado, mas não é mais utópico dizer que o mesmo já passa a incomodar as grandes companhias e também, que o mesmo já é uma preocupação social, pelo alento que o mesmo traz as disparidades de nossa atual sociedade.

No Fórum Mundial Social, realizado em Porto Alegre, neste ano, o Software Livre foi um dos temas discutidos. Seu papel, logicamente, nesta preocupação com o social, é a de trazer maior acesso a informação para pessoas que antes nem sonhariam em conseguir usar um computador. Um dos maiores exemplos do uso de software livre é a própria cidade de Porto Alegre, que agora, usando somente softwares livres, passa a não gastar mais com licensas exorbitantes e sem sentido das companhias de software proprietário. E, com isto, o investimento no social cresce, pois este dinheiro que antes era gasto com licensas e ugrades sem sentido, são agora receita para novos projetos.

Os computadores irão resolver os problemas, quanto mais rápidos forem ? Sim, tenha certeza que sim. Mas, somente haverá uma resolução dos problemas quando o processo social da velocidade dos computadores for totalmente dominado.

E, o conceito de comunidade, tão entendido nos meios hackers, passe a dominar toda a informática, levando finalmente, o computador e a tecnologia, aos outros 60% da população mundial. E, assim, finalmente, estaremos criando a sociedade da informação ( mesmo que, isto vá demorar um bom tempo.).