Os dias


Dias começam, e dias terminam. Células nascem, e células morrem. O começo um dia vira fim. São retratos doentios da vida que inicia para um dia terminar. As cores refletidas em um espelho opaco, são retratos de uma tristeza que não termina mais. Palavras são retratos deste estado, que nunca começa quando tende a terminar.

Pensar não é tão difícil, enquanto garrafas de uísque barato tornam-se vazias. O torpor da mente torna mais claros os atos que não mais existem. Minha mão ainda descansando sobre o copo, procura objetos cortantes, que são brinquedos mortais em momentos tão significativos. Um gato brinca por entre os móveis da casa. Talvez ele seja feliz e não saiba nada do que está acontecendo.

Os pensamentos correm por entre mundos distorcidos. O torpor, não é mais um engano, mas um acerto cada vez mais doentio. Penso pouco, mas enxergo o tudo. A noite é densa, e faces desfiguradas brincam de dizer palavras que não mais dizem nada. Talvez seja este o momento de brincar.

Numa banheira cristalina, observo imagens que não existem. Estas imagens não me dizem nada, mas são somente um retrato doentio de um fim que é tão desnecessário quanto o começo. Um gota vermelha pinta a cristalina água.

Borbulhando sangue, meus pulsos em algum momento vão parar de responder. Uma garrafa de uísque barato ainda repousa ao lado da banheira.

Os dias começam e terminam, como se nunca houvessem começado.