Independência aos 23 anos

Na boa, que um dia, eu ainda quero conseguir ter uma condição de trabalho razoável, como muita gente já conseguiu com Software Livre …

Programador brasileiro é um dos nomes mais badalados do software livre VANESSA NUNES

À espreita de Marcelo Tosatti na sala que alugou em um prédio do bairro Floresta, na Capital, só alguns mascotes do Tux, o pingüim símbolo do Linux.

É de lá que o programador de 23 anos integra a equipe de desenvolvedores do sistema operacional do laptop de US$ 100. Os seus chefes e colegas estão nos Estados Unidos. Tosatti chega e sai a hora que quer, e só não trabalha em casa porque prefere o silêncio do escritório. Apesar de sua pouca idade, é um veterano na informática, com uma década de experiência profissional.

Mas na face mais conhecida da comunidade brasileira de software livre, os trejeitos são de guri, que vai para o escritório de tênis, jeans e camiseta. E de um nerd confesso, bem como no clássico estereótipo: óculos e computador embaixo do braço.

  • Máquinas são mais simples que pessoas - afirma.

Já em sua conversa, os “bá” despistam: o guri, na verdade, é curitibano. Adotou Porto Alegre desde o Fórum Internacional de Software Livre de 2003, quando conheceu a fotógrafa Suzana Lopes, 40 anos, com quem vive desde então.

Tosatti havia se tornado conhecido mundialmente em 2001, quando o criador do Linux, Linus Torvalds, surpreendeu a comunidade de software livre ao escolher um latino-americano com 18 anos para ser o mantenedor do kernel (núcleo) da versão 2.4 do sistema operacional. Tosatti é responsável pelas melhorias e modificações no coração do GNU/Linux (significa que, para qualquer alteração, tem de consultar um código-fonte - como se fosse uma receita - que tem cerca de 2 milhões de linhas).

  • Rolou preconceito. Eu não tinha nem idade para ter formação técnica. Mas sempre ralei muito. Aprendi assim, fuçando bastante.
Caminhos se abriram com a Internet

O primeiro contato com a informática veio por volta dos 11 anos. Um de seus irmãos montava computadores em casa, o que despertou a sua curiosidade. Começou jogando Doom, aprendeu comandos em DOS, mas o leque se abriu com a Internet:

  • Num chat, me falaram do Linux. Levei um mês para instalar. Naquela época, precisava ter vários conhecimentos. Eu sabia que o código era aberto e podia ver como funciona. Isso me fascinava - conta.

O primeiro estágio, aos 13 anos, foi em um provedor de Internet. Depois, passou cinco anos na Conectiva e três na Cyclades até mudar para a gigante norte-americana do software livre Red Hat. Agora trabalha no kernel do sistema operacional do laptop de US$ 100, desenvolvido pela ONG OLPC (sigla, em inglês, de Um Laptop por Criança) em parceria com o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e a Red Hat.

  • Sou precoce no trabalho, né? Mas fui trabalhar cedo porque quis. Meus pais eram contra. Queriam que eu só estudasse - lembra.

E provou estar certo. Hoje também mantém a arquitetura Power PC 8xx no kernel 2.6 do Linux.

O programador não revela o valor de seu passe, mas garante que é possível, sim, ganhar dinheiro com software livre (o programa pode ser instalado, copiado, modificado e distribuído livremente, mas ao se contratar serviços extras, como suporte, o profissional é remunerado). Tosatti já comprou carro e casa própria desenvolvendo aplicações em código aberto. Quando o assunto é projetos para o futuro, resume:

  • Nada em especial. Pretendo apenas continuar trabalhando com software livre. Meu negócio é ficar na frente do computador.

Fonte: Zero Hora