Repórter testa controle remoto que comanda humanos

Por Yuri Kageyama

Usamos controles remotos para ligar e desligar coisas, para controlar aviões de brinquedo ou até robôs. Mas manipular humanos?

Prepare-se para ser controlado. Eu fui. Imagine, ser rendido por um controle semelhante aos dos carrinhos de brinquedo.

A Nippon Telegraph & Telephone Corp., companhia telefônica japonesa de relevância, declarou estar desenvolvendo a tecnologia para talvez tornar videogames mais realistas. Mas usos mais sinistros também vêm à mente. Posso ver essa tecnologia ser utilizada em arsenais militares na confecção das chamadas armas “não-letais.”

Um fone de ouvido especial foi colocado na minha cabeça durante uma demonstração recente no centro de pesquisa NTT. Ele enviava uma corrente elétrica de muito baixa voltagem da parte de trás de minhas orelhas para toda a cabeça – fosse da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda, dependendo para que sentido o joystick do controle remoto era movimentado.

Achei a experiência exaustiva: eu tentei ir para frente, mas me mantive cambaleando de um lado para o outro. Aquelas correntes alternadas literalmente me tiraram do sério.

A tecnologia é chamada de estimulante galvânico vestibular – essencialmente, a eletricidade mexe com os nervos delicados de dentro do ouvido que ajudam a manter o equilíbrio.

Eu senti uma vontade misteriosa e irresistível de começar a andar para a direita, sempre que o pesquisador movia o botão para direita. Eu estava convencida – erroneamente – que essa era a única forma de manter meu equilíbrio. O fenômeno é indolor, mas dramático. Seu pé começa a se mover antes mesmo que você perceba. Eu podia até mesmo me controlar pelo controle remoto, acionando seus botões.

Não existe ainda nenhuma explicação concreta para o porque das pessoas começarem a mudar de direção quando a eletricidade atinge seus ouvidos. Mas os pesquisadores da NTT dizem que eles podem fazer com que uma pessoa ande por um caminho na forma de um pretzel gigante usando essa técnica.

É uma sensação impressionante, semelhante a estar bêbado ou dormir sob a influência de anestesia. Mas é mais definitivo, já que uma mão invisível está alcançando dentro do seu cérebro.

A NTT declarou que o utensílio poderá ser usado em videogames e parques de diversão, embora ainda não tenham planos para produtos comerciais.

Algumas pessoas realmente gostaram da experiência, pesquisadores relataram enquanto reconheciam que outros, de fato, se sentiam desconfortáveis.

Eu assisti uma demonstração de corrida de carros em uma grande tela enquanto usava o aparelho programado para sincronizar as curvas com o estimulador galvânico vestibular. Isso acentuou a inclinação como se um carro de corrida imaginário passasse por um percurso virtual, me deixando instável.

Outro programa tem a corrente elétrica sincronizada com música. Minha cabeça estava pulsando contra minha vontade, sacudindo-se sobre meu pescoço. Eu fiquei tão enjoada que mal me mantinha de pé. Tive que desligá-lo. Pesquisadores do NTT sugeriram que isso possa ser um reflexo da minha falta de habilidade musical. Pessoas acostumadas a se expressarem livremente adoram a sensação, eles disseram.

“Nós chamamos isso de experiência virtual de dança embora algumas pessoas se refiram à experiência mais como sendo uma droga virtual”, disse Taro Maeda, cientista sênior de pesquisa na NTT. “Estou bastante esperançoso que a Apple Computer se interesse nesta tecnologia, para oferecê-la no iPod.”

Pesquisas usando eletricidade para afetar o equilíbrio humano têm sido feitas por todo o mundo já há algum tempo. James Collins, professor de engenharia biomédica na Universidade de Boston, tem estudado a possibilidade de usar a tecnologia para prevenir os idosos de quedas e para ajudar pessoas com senso de equilíbrio prejudicado. Mas ele também acredita que o efeito pode ser usado para jogos e outras formas de entretenimento.

“Suspeito que, provavelmente, será um pontapé nas ilusões que podem ser criadas para dar a sensação de uma experiência de imersão total com parte da realidade virtual,” disse Collins.

O baixo nível que eletricidade requerida para o efeito não deve causar qualquer problema de saúde, Collins diz. Ainda assim, NTT pediu que eu assinasse um formulário de consentimento, declarando que eu estava testando o aparelho sob minha responsabilidade e risco.

E risco definitivamente vem a mente quando se brinca com essa tecnologia. Timothy Hullar, professor assistente na Escola de Medicina da Universidade de Washington, em St. Louis, Mo., acredita que achar o caminho certo para levar um campo eletromagnético para o ouvido à distância pode transformar a tecnologia em uma arma para situações em que matar não é a melhor solução.

“Essa pode ser a situação mais lógica para uma arma “não-letal” que, presume-se, faria seu oponente ficar tonto,” ele disse via e-mail. “Se você achar a freqüência correta, energia e tempo de aplicação, poderá esperar encontrar algo que não cause dano permanente, mas que te permitirá deixar alguém temporariamente fora de equilíbrio.”

De fato, uma pequena empreiteira de defesa no Texas, Invocon Inc., está explorando se pulsos eletromagnéticos precisamente sintonizados poderiam ser atirados com segurança nos ouvidos das pessoas para temporariamente amortecê-las.

A NTT tem usos amigáveis em mente. Se a sensação de movimento pode ser capturada para um playback, então pessoas poderão entender melhor o que uma bailarina ou uma ginasta olímpica está fazendo, o que pode ser útil ao ensinar essas habilidades. A tecnologia pode ainda direcionar um resgate em um túnel escuro, por exemplo, pesquisadores do NTT dizem. Eles reafirmar que o objetivo não é controlar pessoas contra suas vontades.

Mas se você estiver determinado a lutar contra as ordens sugeridas pelas correntes elétricas, se segurando em uma rede ou apenas se deitando de costas, você simplesmente não conseguirá se mover. Mas, por minha experiência, se a corrente persistir, você provavelmente será persuadido a seguir suas ordens. E eu não gostei nem um pouco da sensação.

Fonte e fotos : Mundo Virtual - Último Segundo