Sou meio suspeito para falar de Carl Sagan. Principalmente porque sou um grande fã do cara, talvez em todos os sentidos. Gosto do modo como ele consegue tratar, com muita destreza e finura, temas que hoje, nós, ateus não temos o mínimo bom senso em tratar.
Sagan é como um ateu político. Ele consegue em poucas linhas falar tudo que nós, atuais ateus, não conseguimos passar para as massas em milhões de linhas. E, talvez por isto, tenha sido, para mim, um dos maiores divulgadores científicos de nossa era.
O livro que é um trocadilho com outro clássico, de Wiliam James ( Variedades da Experiência Religiosa ), mostra um pouco das reflexões sobre a religião e suas implicações na vida humana. Sagan, neste livro consegue nos mostrar que não é necessário radicalismo para procurar inconsistência na religião, pois, ela, no fim das contas, acaba sendo inconsistente por si só.
E não pense em radicalismo quando se fala de Sagan. Em nenhum momento, no livro, ele o é. Dá para imaginar ao ler, a calma em que ele estava apresentando suas opiniões em um local que no fundo, é altamente religioso. E, também, sua calma e “finesse” ao responder às perguntas, que por vezes eram um pouco ataques frontais ao mesmo.
Um dos aspectos que o livro discute é um tipo de provincianismo das religiões, onde ele explica uma visão interessante, o provincianismo. Quer um exemplo claro ? A maioria das religiões acha que a vida só pode existir aqui, neste planetinha azul minúsculo, ou seja, uma parte tão ínfima do universo que chega a ser piada.
Não levam em consideração o tamanho do espaço. Não levam em consideração que pode haver vida em outros locais, aliás, vidas estas totalmente diferentes do que entemos como “seres vivos” aqui.
Como a vida na Terra apareceu aqui, deste modo, a partir de uma sucessão de fatos desde o início da existência do nosso planeta, nada mais natural que em outro planeta, com outras variáveis, a vida possa ser totalmente diferente da vida aqui ( aliás, vários desenhos discutem de forma bem humorada como uma pequena variável modificada, pode transformar em muito o efeito final ).
Além disto, ele faz um paralelo interessante entre a ufologia e as religiões. Apesar do que apresentei acima, ser uma possibilidade matemática, ao mesmo tempo, a ufologia ainda é uma coisa meio “fé”. Digamos que não temos prova alguma de que recebemos visitas de seres de outro planeta, pois a maioria dos acontecimentos ligados a isto, foi desmascarado quando submetido a uma banca de especialistas.
Sagan argumenta sobre o ceticismo que temos que ter quando estamos trabalhando com qualquer tipo de coisa. Ou seja, ele não quer parar. O paralelo que ele faz entre a religião e a ufologia são interessantes.
Ele demonstra que diversos pretensos contatos com extraterrestres, para serem testados, passam por exigentes critérios de prova para testar sua veracidade. E muitos, por sinal, não passaram. Mas nem por isto as pessoas mudaram sua crença naquilo, ou seja, naquele fenômeno, porque ele as reconforta internamente.
A religião é mais ou menos isto, como ele mesmo diz. Para-se os testes quando se chega na religião, porque ela reconforta. E, se for testada até o fim, sua “falta de lógica” irá levar o testador a uma dúvida, o que por sua vez, pode não parecer muito legal.
No fim, como ele mesmo diz, os Deuses se existissem mesmo, conseguiriam finalmente nos deixar provas de seus rastros na Terra em seus livros sagrados, simplesmente porque em um momento da nossa existência nós teríamos o conhecimento para entender o que está escrito lá. Ou seja, porque não mostrar resultados complexos de um cálculo de física quântica ou até, o aparecimento real de máquinas que hoje temos aqui ? Até porque, faz parte da cultura dos escritos religiosos que várias mensagens só serão entendidas pelo homem tempos depois. Mas, não há nenhuma destas mensagens nos livros sagrados. O que torna bem provável que eles não tenham sido escritos por deuses.
O que é claro, ao terminar de ler o livro de Sagan, é que a religião é falha. E que, a busca pela verdade nela pára naquele momento em que ela pode ser refutada pela busca. A Verdade, aquela que o cientista sempre busca, não é o foco da religião. A verdade religiosa é simplesmente aquela que corrobore com a continuação daquela crença.
Pena Sagan não mais estar vivo … sua sabedoria sempre fará falta entre nós :-)
