Uma coluna falando sobre uma matéria da Veja que no fim das contas errou somente no título, mas realmente tocou em pontos importantes sobre a política de TI no governo Lula.
Tudo bem, a maioria de nós sabe que a Veja é uma revista altamente parcial, e que gostaria de ver o Lula morrendo engolido por um monstro tipo aqueles demônios do filme Spawn.
Também sabemos que é um veículo de comunicação de massa no Brasil, que infelizmente consegue fazer com que as pessoas “passem” a ter uma opinião moldada por ela ( tal qual a Globo, que é outro meio de controle da população ).
Também sabemos que apesar dos acertos, Lula deu chance para quem quiser criticá-lo. E, sem ser imparcial, coisa que ele fez durante anos enquanto foi oposição.
No início do governo Lula, muitos se mostraram animados com a promessa de que diversas políticas de mudança para o Software Livre seriam feitas. Entre elas, a adoção do Linux como servidor e em alguns bancos, a adoção dele como Sistema Operacional dos terminais. Bom, para diversos bancos, pois estariam adotando o melhor padrão atualmente em sistemas operacionais, que é o Unix.
Fim das contas, a incompetência operacional do governo Lula, acabou servindo para gerar críticas ao modelo de implantação deste tipo de Software no governo.
A Administração pública no Brasil sempre foi ruim. Salvos alguns casos, a maioria dos serviços tecnológicos prestados pelo governo sempre foi de baixa qualidade. Não se precisava saber porque. O grande problema, é, que, a maioria dos funcionários, concursados, nunca se preocupava em “procurar” um modo de crescer, ou seja, estudar mais. Para que, se no fim das contas o cara estaria empregado para o resto da vida.
O momento é diferente : enquanto antigamente, o profissional que dominava somente uma linguagem e somente um sistema operacional era um guru, hoje ele não passa de qualquer um. Hoje o profissional tem que ter o jogo de cintura para conseguir simplesmente se virar em qualquer lugar. É Windows, ótimo, vamos usá-lo. É Unix, ótimo, vamos usá-lo. É algum software livre do fundo do baú, ótimo, vamos usá-lo.
É isto que tem que ser visto, se houve a necessidade de vários consultores, é porque no fim das contas, a mão de obra do governo, estava de mal a pior.
A briga, apesar da Veja deixar claro, não é contra a Microsoft. Se o editor da matéria não sabe, a maioria dos serviços de grande porte do governo federal e dos estaduais não roda em cima de Windows. Em geral, está baseado numa arquitetura Unix, a mesma inclusive que o Linux e os BSDs, que são livres possuem.
O custo de migração para o Linux e outros Unixes-Like, nestes casos, não seria tão grande. Ou seja, no fim das contas, seria pegar um Software que utiliza um tipo de Unix e passar para outro.
O que muda neste caso é a ponta. Não o core, ou seja, centro das aplicações. Quando você começa a mexer no Desktop do atendente, ou seja, quando se muda a cor do capim, é que o atendimento começa a ficar pior.
Os bons casos de migração para Software Livre foram aqueles que levaram em conta o usuário. Não adianta milhares de consultores para lá e para cá, fazendo um ótimo serviço, se você não preocupa com a coitada da Secretária, que, fica louca quando não acha o botão do “Word” no lugar onde ele estava.
O investimento maior deve ser sempre em treinamento. Coisa que eu não sei se foi feita no governo.
Minha opinião é que o SL sim, diminui o custo ao longo dos anos. Porque ? Porque no fim das contas, existe uma coisa chamada, comprar o Software, e outra coisa chamada, manter o software.

Quando o usuário final compra uma caixinha de software, ou seja, para instalar no seu desktop, ele recebe um tempo de suporte. Ou seja, o fabricante pode até fornecer suporte ao seu produto, mas em geral o usuário vai mandar sua máquina para alguma oficina sempre que o seu produto der problema. Ou seja, no fim das contas, além de pagar pelo software, ele também vai pagar pelo produto. Os famosos cinco anos, não existem no fim das contas, até porque o fabricante vai lhe dar suporte somente se você estiver usando o software de acordo com o manual de uso e hardware especificados por eles. E, em geral, estes hardwares são mais caros que aqueles que compramos por aí no mercado :-) .
Quando entramos no mercado corporacional a coisa é bem mais interessante. Nem o Software Proprietário foge do chamado contrato de suporte. Por um acaso, uma base de dados como a da receita federal, não vai ter um contrato de suporte 24x7, com uma Oracle, por exemplo. Que sonho é este ? Se existe uma garantia de software deste tipo, alguém avise as milhões de empresas que hoje pagam seus contratos de suporte caríssimos para poder manter seus sistemas funcionando.
Além disto, há outro ponto. Mão de obra especializada em Software Proprietário. O custo de formação destes profissionais é alto, já que eles tem que ser mandados para fazer cursos caríssimos e em geral, suas horas técnicas são extremamente altas. Assim, ao longo de cinco anos, ao contrário do que a Veja fala, a empresa além de ter gasto com a compra do Software, ela vai gastar com a mão de obra especializadas, mais o contrato de suporte com a empresa da qual ela comprou o software.
Um outro ponto, é o custo de atualização de software. Vejamos o seguinte : o windows 98 rodava muito bem numa máquina com 128 de ram, o 2000 precisava de pelo menos o dobro, o XP já precisa de pelo menos o dobro e o Vista, possivelmente, vai comer muito mais memória. O louco disto tudo, é que se esquece que a cada X tempos aparecem softwares que pedem máquinas mais poderosas que pedem cada vez mais consultores experientes para instalá-los.
Agora, vamos ao retrato do SL. O custo é menor. Ou seja, Free Software, não é software grátis, mas sim, software que contém as quatro liberdades básicas :
- Liberdade 1 : Liberdade de estudar o programa e adaptá-lo para suas necessidades.
- Liberdade 2 : Liberdade de distribuir cópias de modo que possa ajudar ao próximo e a comunidade.
- Liberdade 3 : Liberdade para modificar o programa, e deixar disponível para toda uma comunidade fazer aperfeiçoamentos.
Ou seja, no final sim. Você precisa de consultores especializados para adaptar o software, seja ele proprietário ou livre, para o que você quer. Sim, tem um custo grande. Mas, o grande tchan do Software Livre, não está na queda dos custos de implantação e sim, na queda de custos ao longo do tempo e na velocidade em que os problemas são resolvidos.
Como há uma comunidade em volta de todo software, o tempo de resolução dos problemas é muito menor de uma empresa que tenha somente X programadores para resolver. E, o mais legal de tudo isto. O custo de pegar esta atualização é zero, já que está disponível na internet.
O grande problema do chamado efeito Software Livre no governo Lula, é o próprio governo Lula. Ele não soube priorizar as políticas. Uma boa política de SL deve estar atrelada a convênios com universidades e afins. Ou seja, muita coisa ainda falta ser feita para que o governo tenha uma boa política generalizada de atendimento a população.
O outro grande problema, é que as empresas de software no Brasil, ainda usam um modelo um pouco arcáico. Software para eles é produto. Eles acham que vender programas é que é o legal. Ou seja, eu faço um programa de controle de caixa para empresas e acho que aquilo ali vai ser minha galinha dos ovos de ouro.
Só que eles se esquecem que o dinheiro de um software vem da manutenção. Ou seja, é melhor você vender um programa a 10 reais e fazer um contrato de 50 reais por mês. Ou seja, em um ano este programa, em manutenção te rendeu 600 reais.
As empresas que estão chorando problemas, são empresas que não vão sobreviver ao novo modelo de negócios do mundo. A prestação de serviços. Software é serviço e não produto. Nunca se deve esquecer isto na informática.
Agora, a grande pergunta que fica, depois de ler a matéria da Veja é : onde está este tal suporte gratuito de cinco anos ? Se eles puderem responder esta pergunta, eu realmente, ficaria grato, pois poderia fornecer a alguns conhecidos meus a possibilidade de nunca mais pagar um contrato de suporte para empresas que vendem as famosas caixinhas de software :-)