Ceticismo, Dogmatismo e Paranormofilia

Texto bem interessante, falando e deixando claro o que realmente a Fundação Randi e outras coisas mais. Mereceu ser publicado por aqui :-) Fonte : Pesquisa Psi


Nas últimas semanas, por ocasião do quadro “Desafio Paranormal”, do Programa Fantástico, tenho recebido várias mensagens inquirindo-me a respeito das posições ali expressas e pedindo para que eu me posicionasse frente a elas. Aproveitei o ensejo para refletir, um pouco mais, a respeito de certos conceitos e atitudes que, abaixo, espero tornar claras de maneira resumida.

Uma das perguntas que me chegaram: “Vi apresentar-se uma pessoa que se dizia cética. Mas o que ela disse é exatamente o que você sempre disse. Então, você também é um cético?” Minha resposta: “Claro, sou um cientista!” Todo cientista é (ou deve ser) um cético. Adotar a posição cética significa não aceitar qualquer alegação de maneira apriorística. No caso específico de pessoas que afirmam ser possuidoras de certa habilidade “paranormal”, a atitude científica é de não aceitar tal alegação sem demonstrações empíricas construídas de maneira a se verificar, experimentalmente, se a alegação se sustenta ou não. Nesse sentido, o que faz o mágico (canadense, não americano como o programa vive a repetir) James “Amazing” Randi é exatamente o que fazemos nós, cientistas que investigamos tais alegações. Outra pergunta freqüente: “Você apoia o trabalho de James Randi?”. Minha resposta é clara: NÃO! James Randi não submete qualquer pessoa aos seus estudos por considerar que as alegações paranormais devam ser estudadas cientificamente. Segue, na verdade, uma agenda, bastante clara para quem o acompanha, de denegrir a pesquisa de psi por considerar, aprioristicamente, os fenômenos psi impossíveis e os pesquisadores de psi, no mínimo, despreparados, quando não, tão embusteiros quanto os charlatães que a ele se submetem. A presunção de impossibilidade de qualquer coisa (seja ela paranormal ou não), desde uma perspectiva científica, só deve ser sustentada a partir de dados empíricos advindos da laboriosa investigação experimental. Se baseada em qualquer outra premissa, ainda que lógica, pode ser rotulada como dogmática. Randi e os aspirantes a céticos profissionais parecem sofrer da mesma doença, cientificamente imperdoável: o dogmatismo.

Afinal, o que significa apresentar-se como “cético”? Acho realmente rizível tal atitude. Ou se é cientista ou não se é! Se todo cientista deve adotar uma postura cética, então o que está em jogo? Uma negação apriorística? Se é assim, então não estamos falando de ciência! Apresentar-se como “cético” é tão ridículo quanto alguém que se apresentar como “estudioso sistemático”, ou “buscador de evidências empíricas”, ou ainda, simplesmente, “sério”, todas características esperadas no comportamento do cientista. As vezes tenho a impressão de que alguns se valem do rótulo de “cético” para esconder sua não-formação científica. Ora, que se empenhem e se tornem, simplesmente cientistas, pesquisadores. Mas tenho informações suficientes para sustentar a posição de que, por trás de certos movimentos céticos, na verdade existe uma luta anti-religiosa. (Sinto-me à vontade para falar do tema uma vez que não faço parte de qualquer movimento religioso, não me considero religioso e sou um não-teísta!)

Chegamos ao tempo de apresentar nossa definição de “paranormofilia”, horrível neologismo, bastante útil para expressar a outra face do problema. O paranormófilo é o oposto daquele que se apresenta como cético. Acredita em tudo, sem que seja necessária a verificação científica. Tem experiências de sair do corpo e acredita que isso seja suficiente para validar a existência da “alma”. O paranormófilo vai à sessão espírita e sai de lá acreditando que falou com espíritos. Muitas vezes prefere ir ao curandeiro a ser asssitido por um médico. Acredita que forças insondáveis, entidades superiores ou inferiores, energias sutis… estão demonstradas porque nelas crê.

Gostaria de comentar uma última questão, aproveitando de um pergunta também bastante freqüente: “Alguém vai ganhar um milhão de dólares do Randi?”

Meu palpite é de que não! Mas aqui apelo não à minha “intuição” ou ao meu desejo, mas ao meu conhecimento. Os fenômenos que estudamos, via de regra, se “demonstram” indiretamente, por meio de medidas, ou de maneira espontânea e incontrolável, sem que saibamos quando e como se manifestarão. Não estou assumindo a existência de fenômenos parapsicológicos ou paranormais (termo, aliás, que abomino). Tenho sérias dúvidas a respeito de sua existência. Mas, ao avaliar toda a história empíricas de tais anomalias estou, neste momento, propenso a aceitar como boas as evidências existentes em seu favor. Ainda que eu seja testemunha ocular do movimentos anômalos de uma tampa de bule (além de outros objetos) sem contato aparente em uma assim chamada “casa mal-assombrada”, e ainda que eu seja também testemunha direta de sonhos alegadamente precognitivos riquíssimos em detalhes, não considero tais experiências como evidências aceitas cientificamente. Estas são importantes no sentido de inspirarem estudos experimentais nos quais tenho pessoalmente estado envolvido nas últimas décadas. Não sofro de paranormofilia. Não me apresento como cético. Sou um cientista. Interesso-me pelo estudo de certas alegações que convencionamos denominar de “aparentemente extra-sensório-motoras”. As estudo aplicando o método científico, submetendo hipóteses à experimentação e controlando variáveis.