Vivendo sobre o domínio das guitarras distorcidas ...

Um grande amigo meu, o Thompson, banger das antigas também, tem uma frase que define bem o sentimento que sempre tivemos ao ser bangers na década de 80. Esta frase é a clássica "Somos o front".
Esta frase é meio que uma alusão a guerra. E, no fim, era uma guerra ser roqueiro[bb] em um país que via nós, Headbangers como ETs. Os "roqueiros" puristas nos achavam adolescentes que não entendiam de rock e os nossos pais, ah, nossos pais e a sociedade achavam que éramos loucos ou até, usuários de drogas.

 

SARCOFAGO

 

Mas não era bem assim. Éramos adolescentes. Procurando um caminho, só que ele foi regado a um som estranho, pesado e ao mesmo tempo, apaixonante. Este som era o Heavy Metal[bb], na sua forma mais pesada. Um Heavy Metal[bb] que nos fazia urrar a altos brados a nossa libertação dos valores que achávamos retrógrados e sem sentido, numa época de muito tradicionalismo. 

Talvez por isto o documentário Ruídos de Minas tenha me "emocionado" como emocionou. Ele pegou aquela época, mágica, em que as bandas mineiras estavam nascendo e uma pequena cena se formava, sendo o embrião para tudo que conhecemos de metal hoje no Brasil.

Primeiramente, o documentário é um primor da qualidade. Foi produzido totalmente "underground", sem grandes investimentos, mas nem por isto deve a outros grandes documentários. 

O documentário[bb], em si, mostra a cena metálica mineira dos 80.  Pega os ícones dos anos 80 e os desfila em depoimentos legais. É interessante ver, em depoimentos como o Gegê, do Sarcófago, que a alma radical continua ali, pregada em nossos corações. 

Um ponto interessante e bem realista do documentário é cair pelo chão a visão "romântica" de que o Sepultura[bb] fez algo pela cena metal nacional. Como todos sabemos, não fez nada. Ao contrário, eles conseguiram "atrapalhar" muita gente boa que poderia ter sido muito mais bem sucedida que eles lá fora.
O lance é: Sepultura foi a banda certa, com o som certo, na hora certa. Só que ao contrário, faltou eles terem "integridade".

Integridade esta encontrada na maioria das bandas que ficaram por aqui. Sarcófago[bb] é a mais das mais. Durante todos os seus anos de carreira, influenciaram bandas do mundo inteiro, porque mantiveram-se ali, extremos e sem se vender. Uma banda que marcou época e ainda influencia muita gente. 

É legal poder ver o Cláudio e o Bozó relembrando aqueles tempos legais. Em que o Overdose[bb], mesmo sendo uma das melhores bandas de BH, acabava sempre chegando depois. E, por sua vez, pegando o cenário mais "cheio" e talvez assim, mais difícil de lhes aceitar. 

Paty, da Cogumelo, mostrou a visão de aventureiros ( ou empreendedores ), em uma época que ninguém via futuro naquele estilo. Caramba, imagine um lojista catar um monte de moleque e gravar discos de metal ( extremo ainda ), num mercado que nem preparado para isto estava ?
Imaginou, foi o que os doidos da Cogumelo fizeram e não é que deu certo. Mostraram ao mundo os petardos que ouvimos e bangueamos durante as últimas décadas.

É um documentário que mostra que além da alma radical que está pregada em nossos corações, está pregado o Heavy Metal.
Esta áurea de paixão que passa no documentário se mantém acesa em todos nós. Já falei isto por aqui, e acho que isto, sem dúvida, foi por causa da nossa formação. Os discos eram troféus.

Caramba, quantas vezes se trocava 10, 12 cartas com alguém até você conseguir que o cara lhe enviasse uma fita, mal gravada, com um som altamente extremo. E, caramba, isto era um troféu, que era trocado entre amigos, e ainda, motivo de reuniões legais, onde estávamos com nossos iguais.

O metal tinha "alma". Alma esta que foi perdida hoje com um profissionalismo chato e músicos que parecem robôs sem vontade de defender uma causa. Se é, que, hoje, exista uma causa da ser defendida.

Posso dizer que sinto saudade desta época, e se tivesse que viver de novo, gostaria de ter novamente nascido para pegar os 80. Sinto-me honrado de ter estado ali, e vivido aquele momento,  e ainda, na obrigação de honrar aquela época.

Pode parecer bôbo para quem é mais novo, mas é real para quem tem a minha idade, ou um pouco mais velho. Somos velhos guerreiros de uma época que não mais vai voltar. Participamos de uma história que formou tudo que vocês, mais novos, aproveitam. Falta sangue, falta vontade, mas pelo menos vocês ainda estão ouvindo metal :-) 

 

Mutilator

 

Torço para que o pessoal do Ruídos de Minas consiga  lançar este petardo em DVD para nóis aproveitar todo o dia, e até, quem sabe mostrar para nossos filhos e netos né ? Para eles verem como os vovôs eram doidos e ouviam metal de verdade.

Estaremos velhos e entoando as velhas canções, nossos famosos hinos de Guerra. "Enquanto aquela estrela brilhar no azul do céu, o heavy nunca vai parar de rolar".
Uma frase que define o coração de cada um de nós, banguers que vivemos e ainda vivemos a década de 80 :-)