Por: Kristan J. Wheaton
Original em: http://sourcesandmethods.blogspot.com.br/2011/05/part-7-critiques-of-cycle-cycles-cycles.html
Profissionais de inteligência tem seu famoso ciclo como algo único. Por sua vez, para decisores mais experientes que estejam nas áreas de aplicação da lei ou negócio ou segurança nacional o ciclo se mostra muito familiar pois se parece com muitos processos de tomada de decisão mais lineares.
Além disto, essa familiaridade gerou um certo desprezo pois todas estas disciplinas estão lutando para redefinir seus próprios processos à luz da tecnologia do século XXI e seu pensamento sistêmico. Em suma, o ciclo de inteligência não só falha na tentativa de explicar o processo de inteligência, mas também surge como um passo de ‘vendas’ muito arcáico para um decisor que normalmente já é familiarizado com as falhas dos processos lineares.
Cada oficial militar, policial ou estudante de administração que tenha frequentado um nível básico da formação de sua profissão está familiarizado com um modelo de tomada de decisões que normalmente inclui definir a questão, a coleta de informações relevantes para a questão, analisando alternativas ou cursos de ação, fazer uma recomendação e, em seguida, comunicar ou executar esta recomendação ( ver imagem abaixo ).
Este modelo, é bem claro ao se olhar, tem uma notável semelhança com o “ciclo de inteligência”. Semelhança esta que pode enganhar os desinformados, mas é provável que passe desapercebida pelos decisores que a inteligência suporta. Esses decisores, que nunca são somente folhas em branco ou tolos, também não devem aceitar uma explicação tão simplista do processo a menos que aceitar tal explicação sirva para seus próprios fins ou, simplesmente isto não seja importante para os mesmos.
Isto, por sua vez, resulta em duas consequências negativas para a inteligência. Primeiro, os decisores, na melhor das hipóteses, verão a inteligência como “nada de especial”. Do seu ponto de vista o ciclo da inteligência é somente um modo de glorificar o processo de tomada de decisões.
Na pior das hipóteses, no entanto, os decisores vão ver o “ciclo de inteligência” com um mero exagero de publicidade, uma maneira elegante de falar sobre algo que poderia, a seu ver, ser definido de modo muito mais simples usando um modelo de processo linear ( embora este já esteja um pouco datado ), pois os mesmos já estão familiarizados com ele. Muitas organizações de inteligência do setor privado têm problemas em convencer os decisores que eles suportam sobre a importância da inteligência. A grande ênfase sobre o valor do ciclo da inteligência, especialmente quando confrontada com um decisor bem intruído, pode certamente ser uma parte do problema.
Mais insidiosamente, no entanto, a percepção ofusca o verdadeiro papel da inteligência no processo de tomada de decisão. Decisores, treinados e acostumados a trabalhar com o processo de tomada de decisão, vão pedir aos profissionais de inteligência para fornecer recomendações, ou seja, o mesmo tipo de produto exigido pelo processo de tomada de decisão clássico.
A inteligência, no entanto, é focada no externo, em questões relevantes para o sucesso ou fracasso da organização, mas que estão fora do controle da mesma. A inteligência faz o seu melhor quando se concentra em estimar as capacidades e limitações dessas forças externas e se sai muito mal quando tenta fazer recomendações aos operadores, pois o profissional de inteligência acaba sendo menos informado sobre as capacidades e limitações da organização.
Em suma, nas mentes de muitos decisores ( especialmente aqueles que não estão familiarizados com a inteligência, mas que conhecem bem suas tarefas operacionais), o ciclo da inteligência dá a impressão de que a informação já é “algo do que eu já faço”, mas com outro nome. Por esta razão, explicar aos decisores o valor da informação é mais difícil do que você pensa.
Além disto, uma vez que os tomadores de decisão acreditam entender a natureza da inteligência, da forma como foi explicado, ele se predispõe a requisitar aos profissionais de inteligência demandas as quais os mesmos não serão capazes de responder.
Próximo: ajustando o ciclo da Inteligência
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